Se tentarmos interpretar as palavras que compõe este conceito, diríamos que se trata de linhas, círculos, arcos, que compostos acessariam toda diversidade humana. Mas como “acessar” todos os seres humanos através de desenhos? Como a aplicação deste conceito poderia mudar uma sociedade? A resposta é “mudando a chave”. A partir do momento que adotarmos este conceito nos projetos, de qualquer escala, desde os urbanísticos até o de mobiliários e produtos, passaremos a projetar para toda diversidade de pessoas e não apenas para atender as necessidades daquelas que tem deficiência ou mobilidade reduzida, todos serão atendidos.
Quando crianças, não alcançávamos as coisas por questões de altura e de segurança, quando adultos, encontramos barreiras físicas ao sofremos uma fratura ou quando estamos carregando pacotes muito grandes, ou gestantes ou obesos. Ao ficarmos idosos, nossas forças diminuem, os sentidos ficam menos aguçados e a memória se vai. Também ao longo da vida podemos adquirir uma deficiência, seja ela física, psíquica ou sensorial. Portanto, o normal é que os usuários sejam muito diferentes e utilizem os espaços, os equipamentos e objetos de formas diferentes dos que foram inicialmente projetados.
Na tentativa de proporcionar o uso de ambientes e produtos, de forma segura, confortável e acessível, ao maior número de pessoas possível, sem necessidade de adaptação ou projeto especializado, foram estabelecidos sete princípios a serem contemplados.
1. EQUITATIVO / IGUALITÁRIO:
Utilização por diversas pessoas, independente de idade ou habilidade.
Exemplo: Porta com sensores que se abrem sem exigir força física ou alcance das mãos de usuários de alturas variadas. Rampa próxima a escada, para uso de pessoas com restrições de mobilidade.
2. ADAPTÁVEL / FLEXÍVEL:
Diferentes maneiras de uso, que facilite a precisão e destreza do usuário.
Exemplo: Espaços com poucas separações são naturalmente mais flexíveis; Mesas e cadeiras reguláveis em alturas e posições (inclinações); Computador com teclado e mouse possibilitando a escolha entre os dois recursos, e com softwares de sintetização de voz e leitura de texto; Tesoura para destros e canhotos.
3. INTUITIVO:
De fácil compreensão, dispensando experiência prévia, conhecimento ou grande nível de concentração.
Exemplo: Sinalização de sanitário feminino e de sanitário masculino através dos pictogramas, mapas e placas informativas devem ficar próximos aos acessos; Utilização de placas maiores e menores, priorizando a informação essencial.
4. FÁCIL PERCEPÇÃO:
Informação transmitida de forma a atender as necessidades dos usuários. Essas informações devem ser disponibilizadas nas formas táteis, visuais e verbais.
Exemplo: Mapas táteis, em relevo, com a identificação dos ambientes , principais saídas e outras informações relevantes a segurança; Utilização de contrastes de cor que facilitam a compreensão da informação; Sinalização de piso com a utilização de recursos táteis para orientação de pessoas com deficiência visual.
5. TOLERÂNCIA AO ERRO:
Minimizar os riscos, as ações acidentais ou não intencionais na utilização do ambiente ou objetos.
Exemplo: Instalação de corrimãos e pisos antiderrapantes em escadas e rampas; Instalação de sensores, em alturas diversas, que impeçam o fechamento de portas de elevadores; Sinalização sonora e luminosa nos semáforos de pedestres e saídas de garagem.
6. BAIXO ESFORÇO FÍSICO:
Utilização de forma eficiente e confortável, com o mínimo de fadiga muscular.
Exemplo: Torneira de sensor ou do tipo alavanca, que minimizam o esforço e torção das mãos para acioná-las; Utilização de maçanetas de porta do tipo alavanca (de uso adequado para pessoas com deficiência nos membros superiores); Uso de escadas e esteiras rolantes minimizam o esforço para acessar outras áreas e pavimentos.
7. DIMENSÃO E ESPAÇO PARA APROXIMAÇÃO E USO:
Dimensão e espaço apropriado para aproximação, alcance, manipulação e uso, independente de tamanho de corpo, postura e mobilidade do usuário.
Exemplo: As portas e catracas devem ter largura adequada para a passagem de pessoas obesas, cadeirantes, pessoas com carrinho de bebê, pessoas com pacotes grandes, malas, pessoas com bengalas, entre outros; Os balcões e guichês em alturas compatíveis para utilização de pessoas de diversas alturas; Os assentos devem ser mais largos para comportar confortavelmente pessoas obesas ou com mobilidade reduzida (pessoas com membros engessados , com bengalas ou muletas); Banheiros com dimensões adequadas para pessoas em cadeira de rodas ou as que estão com bebês em seus carrinhos.
Fontes:
Desenho Universal – Um conceito para todos | Mara Gabrilli
NBR 9050 /2015
A aplicação dos princípios do desenho universal nos espaços deve ser como uma reeducação, um novo olhar para o planejamento das atividades nos ambientes. É um exercício que deve ser incentivado aos arquitetos. A prática da arquitetura inclusiva vai colaborar para uma sociedade com menos barreiras físicas e comunicacionais.
Semana que vem, vou trazer mais informações sobre as aplicações do desenho universal nos ambientes. Fique ligado!
Até o próximo texto.
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